Mas é que nem duvidem! Desde que me conheço que tenho uma ligeira gaguez. A minha mãe também tem. Até ao 5º/6º ano, nunca ninguém me chamou a atenção para tal, em tom depreciativo, e eu convivia bem com essa anomalia. Lia nas aulas, lia na igreja, era uma pessoa que conseguia controlar a fala. No 6º ano, entrou para a minha turma uma criatura que, por se achar mais que os outros, decidia ridicularizar os "diferentes". Ridicularizava os gordos, os baixos, os que usavam óculos, os pobres, os demasiado magros... e ridicularizava-me a mim! Eu sempre fui uma pessoa que fazia parte dos "conhecidos" da escola, não ligando nenhuma a este género de afrontas... Só que, quanto mais eu ignorava, mais ele tinha prazer em obstinar o ridículo a que me sujeitava. Ele sentava-se na carteira ao lado da minha. Sempre que podia, dizia o meu nome de propósito aos professores para que eu lesse. Comecei a desenvolver crises nervosas, insegurança, raiva. Nunca chorei... pelo menos à frente dele. Nunca contei a ninguém o quanto aquilo me afectava, mesmo que me perguntassem vezes sem conta. Já vai longa a capacidade que tenho de me fechar nas mágoas que me ferem o coração... estranho para aqueles que conhecem o meu lado mais extrovertido! Ninguém gosta de ser rebaixada, ninguém gosta de ouvir que é "deficiente", ninguém gosta dos risos malvados, ninguém gosta do gozo em praça pública. Muito menos com pouco mais de 10/11 anos. Fui aguentando até ao 9º ano, cada vez mais revoltada, cada vez mais amarga, cada vez mais insegura. Não gostava de ser diferente.
Com a passagem para o secundário e a inscrição da minha irmã na Terapia da Fala, fez-me questionar se, também eu, não precisaria de algo parecido. Fui. E foi, sem dúvida alguma, uma das melhores decisões que tomei na vida. Com a terapia vieram os psicólogos, e com estes o deslindar de uma série de situações que afectavam o meu bom funcionamento enquanto pessoa. Nunca fui um caso de insucesso escolar, é certo! A minha veia perfeccionista não me permitia mais um desaire. Mas melhorei, aos potes, as notas que fui tendo. Melhorei a auto-estima, fui ganhando confiança em mim, senti que não era diferente mas sim especial.
Sem dúvida alguma que percebo o que é ter uma limitação, por mais pequena que seja, e não saber como lidar com ela. Percebo o que é não entender porque nos julgam e olham com olhos de desdém. Percebo o que é sentirmo-nos feridos no orgulho.
Hoje tenho técnicas de auto-controlo. Hoje brinco com a situação. Hoje consigo enganar os mais distraídos. Só quando o peso que carregava, por não me aceitar como era, me saiu do coração é que consegui realmente viver a minha limitação. Hoje gosto dela porque me torna única. Hoje agradeço à Terapia da Fala por me ter tornado num caso de sucesso!*
7 comentários:
Adorei ler este teu texto. O meu filho vai começar agora a ter sessões de terapia da fala na escola. Ele tem dificuldade na articulação de certas palavras(ainda fala um bocadinho à bébe) e este ano também começou a desenvolver uma certa gaguez. É uma criança inteligente, mas extremamente timido e reservado e, tenho grandes esperanças que a terapia o ajude.
Bjokas
Se eu tivesse feito terapia da fala desde sempre (como era objectivo do meu pai), tenho a certeza de que tinha sido uma adolescente muito mais confiante em mim mesma.
Não sou muito gaga, mas em alturas de nervos por vezes engasgo-me um bocado, basicamente a minha língua acelera muito e o cérebro não acompanha o ritmo. Quando acontece tento usar o velho truque de pensar antes de falar.Às vezes funciona logo, às vezes não.
Bella com toda a certeza que ajudará! É certo que também é preciso que seja praticada por bons profissionais mas eu acredito que gradualmente consigas ver melhoras! :)
Inês... Aprendemos a controlar os nossos defeitos. Mas entendo o que sentes. Se quiseres, ainda vais a tempo :) *
Aos 31 anos já não é assim tão fácil,mas ainda reti algumas coisas de quando fiz alguma terapia da fala (ainda fiz mas por pouco tempo),como o pensar antes de falar.A nossa língua é "mais rápida" do que o nosso cérebro,daí o "engasganço",como eu lhe chamo.E esta técnica funciona comigo,mesmo quando estou enervada.Se bem que dou a mão à palmatória:quando os nervos são muitos é quase impossível usar a técnica,e sinto mesmo que a língua vai a 200 km's hora enquanto que o cérebro só vai a 100 km
A minha lingua, volta e meia, prende! LOL :D E é isso que me faz engasgar! :D ahahah
Ela prende, ela solta-se, ela trava,ela destrava...lollolol
Vou linkar o teu post.
Bjs
Estás à vontade Inês :) *
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