terça-feira, 29 de novembro de 2011

DOS AMORES QUE NOS INSPIRAM...



Chorar em público

Quando sair este jornal, a Maria João e eu estaremos a caminho do IPO de Lisboa, à porta do qual compraremos o PÚBLICO de hoje. Hoje ela será internada e hoje à noite, desde o mês de Setembro do ano passado, será a primeira vez que dormiremos sem ser juntos.
O meu plano é que, quando me expulsarem do IPO, ela se lembre de ir ler o PÚBLICO e leia esta crónica a dizer que já estou cheio de saudades dela. É a melhor maneira que tenho de estar perto dela, quando não me deixam estar. Mesmo ficando num hotel a 30 passos dela, dói-me de muito mais longe.
O IPO consegue ser uma segunda casa. Nenhum outro hospital consegue ser isso. Podem ser hospitais muito bons. Mas não são como uma casa. O IPO é. Há uma alegria, um humor, uma dedicação e uma solidariedade, bem-educada e generosa, que não poderiam ser mais diferentes da nossa atitude e maneira de ser - resignada, fatalista e piegas - que são o default institucional da nacionalidade portuguesa. É graxa? Para que tratem bem a Maria João? Talvez seja. Mas é merecida. Até porque toda a gente que os três IPO de Portugal tratam é tratada como se tivesse direito a todas as regalias. Há muitos elogios que, não obstante serem feitos para nos beneficiarem, não deixam de ser absolutamente justos e justificados.
Este é um deles. Eu estou aqui ao pé de ti. Como tu estás ao pé de mim. Chorar em público é como pedir que nada de mau nos aconteça. É uma sorte. É o contrário do luto. Volta para mim.

Miguel Esteves Cardoso in Público 28-11-11

Porque eu também tenho que elogiar o IPO. Tenho que elogiar a forma como nos guardaram a mousse de chocolate, a forma como arranjaram a sala para fazermos a festa de anos ao Zé, em 2009. Reuniram os doentes que estavam melhorzinhos, levaram o Zé com o seu "camião de soros" até à sala e tinham uma mesa preparada para os convidados. As enfermeiras só diziam que não estavam a ver nada. Não estavam a ver nada, mas os olhos delas brilhavam com a emoção. Sabiam que aquele aniversário podia ser derradeiro. Sabiam que aquelas pessoas que tinham vindo ter com ele carregavam um peso enorme no coração, mas sorriam... sorriam com gratidão por estarem a ser ajudadas a criar momentos inesquecíveis a um ser tão débil! 
Se podemos ser um pouco mais humanos, devemos sê-lo. E este MEC tem que o ser... hoje e durante mais uns dias, meses ou anos... enfrentando medos e revoltas, alegrias e conquistas... e isso inspira-me... a lutar... a acreditar no bem... a abrir o coração... a sentir! Eles, os amores verdadeiros, têm que existir... aliás, estou perante um! Na saúde e na doença... na saúde e na doença... 

2 comentários:

Shell disse...

E li este texto pela terceira vez hoje e não há maneira de não largar um lágrima :$ é amor, nada mais nem menos que isso * beijinho

Palco do tempo disse...

bem li o texto e é arrepiante **