segunda-feira, 6 de janeiro de 2014


Estar atrás de um balcão, por vezes, quer também dizer ser confidente. Hoje, num espaço de 1h30, tive perante mim a felicidade plena e a depressão total. Não sendo eu, de todo, o esplendor do equilíbrio emocional, lidei, o melhor que pude, com este alto e baixo perfeitamente delineado. E pensei. Pensei muito e fiquei baralhada, incomodada.  A felicidade plena chega-me através da voz de um marido que não ganhou para o susto. A mulher encostou-se a uma mesa de centro, com vidro, pressionou um pouco demais quiçá, esta cede, ela cai desamparada sobre o vidro partido. 10 cm de vidro que, por um milagre, não lhe atingiram a coluna vertebral. Eu vi a foto do pedaço de vidro. Fuck! 9 pontos e direito a uma segunda vida, a uma segunda oportunidade. Ainda estou incrédula. A depressão total chega-me através de um filho, da idade da minha tia, com uma mãe com múltiplos avc's e, agora, demente. Filho de um pai que tentou, recentemente, pôr término à vida, que se encontra internado numa ala psiquiátrica e que, quando regressar, não se sabe se aceitará a entrada num centro de dia, para ser melhor acompanhado. Um filho que também é marido de uma pessoa depressiva e extremamente frágil. Um filho que é homem e tem um negócio próprio que, não sabe até quando será viável, dado o roubo em impostos a que é sujeito. Uma pessoa que está perdida, que não sabe que rumo dar à vida, que está bem perto de desistir de lutar pela vida e pelo encanto que outros lhe dizem que ela tem. Fiquei novamente incrédula. Porque uma pessoa não deveria de ser sujeita a tamanha provação junta. Mesmo que seja forte. É desumano. E é assim, neste misto de alegria e tristeza, que encerro o dia. Sei que a vida é feita de um quase equilíbrio de momentos bons e menos bons e é nisso que me baseio ou tento. Quiçá esta partilha não fundirá a aprendizagem que advém de um sofrimento agudo com a esperança de que o sofrimento crónico se atenuará, não tarda. Quiçá. Eu cá continuo incrédula com a vida, como com a determinação da natureza por este país fora. Não é, de todo, um dia fácil mas "a nossa vontade é forte" ou tem de ser!

2 comentários:

Inês disse...

Estar por trás de um balcão exige estômago e sangue frio. E ao mesmo tempo sensibilidade. E tu tens.
:))))

Cecília Fernandes Vigário disse...

Ohhh! ;) Ó Inês... de ti vem sempre uma doçura que me deixa radiante! ;) Obrigado*