sexta-feira, 11 de outubro de 2013

As marcas que deixam na nossa vida!



Decorria Abril do ano de 2006. Estávamos no encerramento de uma actividade conviva. Celebrava-se no país inteiro o Convívio Fraterno 1000. Convidaram cada um dos participantes a partilharem a sua experiência com o público. Eu era uma dessas participantes. Gerava-se em mim uma onda de pânico só de pensar em falar em público. Eu era (e sou!) gaga. E tinha chorado toda a água corporal de que era detentora durante o fim de semana. Faltava-me a coragem a cada minuto que passava e isso deixava-me frustrada. Eu não queria desistir mas o medo paralisava-me. Até que se referiram a mim, pobre ser completamente desfeito em pedaços, como um ser inspirador que tinha ensinado que, até mesmo na tristeza aparentemente mais profunda, podemos estar e ser imensamente felizes. Sim. Eu chorei durante o fim de semana todo... de alegria... por me estar, finalmente, a libertar das amarras que me impunha a mim própria. Quando finalmente ganhei coragem para me dirigir ao público, depois de um esquema altamente pensado para não se aperceberem do meu gaguejar, este senhor, na altura Bispo de Aveiro, trocou-me as voltas todas e fez-me, pela primeira vez na vida, improvisar! Era comum começarmos o nosso discurso com a apresentação pessoal. Eu ignorei esse facto porque me custava imenso pronunciar o nome e a paróquia de onde vinha. Então comecei logo a desbobinar paleio. Ele, do alto da sua sapiência e experiência de vida, interrompe-me e, no meio de uma gargalhada diz: "Ó menina... e o teu nome é...?" e piscou-me o olho. Paralisei. E ri-me. E respirei fundo. E disse o nome e retorqui: "Já me lixou aqui o esquema todo!" E foi, sem dúvida, o melhor quebra gelo que já vivi, que já me proporcionaram. Foi nesse momento que percebi que a vida é feita de imprevistos. Que temos que aprender a, sabiamente, conviver com eles e fazer deles o melhor possível. Ganhei uma força que julguei impossível sentir no peito, falei sem problemas de maior, chorei muito, engasguei-me em soluços e fui verdadeira. E, mais importante que tudo, superei-me. Superei-me porque um bando de loucos acreditou no meu potencial, incluindo António Baltazar Marcelino. Ontem faleceu, vítima de agravamento do seu estado clínico e da debilidade própria dos seus 83 anos. Ontem fiquei triste por perdermos uma pessoa importante na nossa comunidade mas feliz por ter tido o privilégio de me cruzar com ele, de uma forma extremamente próxima, em momentos chave da nossa vida. O céu ganhou mais uma estrela. Até já D. António!

1 comentário:

Cátia Lima disse...

Este Senhor crismou-me e nesse mesmo dia ganhou um lugar especial no meu coração, para a vida, apesar de se ter enganado três vezes no meu nome, esse facto deixou-me descontraída, fez-nos sorrir e rir aos dois. Sempre o admirei, o tom de voz dele, aquele sorriso nos lábios e nos olhos sempre que falava e nos olhava, as palavras ábias, meigas e humildes... sem duvida uma pessoa fantástica.
E sim, lembro-me bem desta noite minha amiga e desses três dias em que te conheci e destes 7 anos em que te continuo a conhecer e a orgulhar-me de ser tua amiga...

GMDT sabes disso ***