quarta-feira, 29 de outubro de 2014


A minha farmácia encontra-se em obras de remodelação. Estão a dar-lhe uma nova cara, por assim dizer. Pois bem... o pintor em causa é surdo, com muitas dificuldades na fala, mas um profissional exímio. Só que isto das limitações tem os seus contras. Quando ele anda encavalitado no telhado, a fazer asneira da grossa para quem passa cá em baixo, é um papelinho para o chamar à atenção. Depois também não é muito dado à inteligência global, pelo que está no seu mundo e pouco se preocupa com o que o rodeia. A juntar às peripécias diárias deste pintor, estão os trabalhadores das estradas de Portugal. Trabalho nesta farmácia há quase 3 anos e já vi a rua ser esburacada para cima de 10 vezes. E, pelos vistos, deve estar para durar. Enfim. Mas vamos ao que interessa. Hoje fui almoçar às 14h. Os obreiros do alcatrão estavam a iniciar o trabalho de colocação do tapete de alcatrão. De realçar que estavam a trabalhar em cerca de meia dúzia de metros. Coisa pouca, portanto. Ao regressar de almoço, chego ao cruzamento que me leva para a Farmácia e os queridos, no seu descanso habitual, informam-me que o alcatrão está muito quente e eu não posso passar. Fiquei verde. Tive que estacionar longe porque 2h é pouquíssimo tempo para tratar de meia dúzia de metros. Como referi, vinha a bufar, com ar de quem ia trucidar alguém se lhe dessem livre acesso ao cilindro. Vou eu descansada, a confirmar se tinha o telemóvel e a pegar na chave correcta para abrir a Farmácia quando me espeto contra uma placa de passagem de um andaime. Abananei. Imediatamente os óculos saíram da minha cara e um jacto de sangue me escorreu pela cara abaixo! Sim, eu sou muito despistada e a placa é grande mas não estava lá quando eu saí e muito menos é de alguém inteligente colocar aquilo em frente a uma porta de entrada! Disse quantas caralhadas consegui mas ele, o pintor surdo, não me ouviu, como é óbvio! Não foi preciso levar pontos, benzadeus, e eu só descansei quando o interceptei, ao descer do telhado, para gesticular muito e dizer-lhe que estava ali uma bela merda no meu sobrolho! Passei a tarde agarrada a uma placa fria, estou aqui com o sobrolho inchado, corro o risco de amanhã parecer ter sido vítima de violência doméstica e volta e meia atingem-me umas fisgadas agudas de dor. Quando pedi animação na minha vida JC, não era bem disto que estava a falar. Orienta-te!

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