quinta-feira, 7 de março de 2013


São 22.23. Na casa habita o silêncio próprio de quem tem pais turistas. Turistas à força, convenhamos. A casa inundou-se de silêncio porque foi necessária a sua deslocação a França para ver, quiçá pela última vez, uma tia paterna. Esse maldito arruinador de vidas, o cancro, inundou-lhe o sangue há cerca de um ano e teima em fazê-la render-se dia após dia. A viagem que um dia pensei para mim, para eu voltar a conviver, abraçar e acarinhar a tia dos queijos da vaca que ri, oferecia-a aos meus pais. Foi ela quem lhes proporcionou uma lua de mel que nunca conseguiriam ter sem ajuda. Ela que nunca se esqueceu dos sobrinhos quando vinha a Portugal. Ela que era a única capaz de reunir a família toda em grande animação e convívio. Ela que transbordava amor, que oferecia sorrisos, que cultivava a paz. Eu espero ainda conseguir contornar o destino e pôr os olhos em cima da vida que é ela. Mas se, porventura, não conseguir fico com a paz no coração de ter levado até ela as pessoas que, neste momento, faz mais sentido estar a seu lado. Os meus pais e os meus tios. E se o mundo fosse perfeito, o meu avô, irmão dela, teria deixado de lado argumentos incompreensíveis e teria entrado naquele avião com os filhos para estar com a família que é a dela. É só esta a única mágoa que carrego.

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