O Senhor Pinho (brasileiro) chega à Farmácia, já depois de termos fechado. Bate insistentemente. Eu fui atender, com aquele ar de quem está afectado, por não saberem cumprir horários. Vejo o Senhor Pinho e mudo logo o ar de macambúzio com que ia.
- Queira desculpar, minha querida, mas a Conceição precisa urgentemente desta medicação.
- Então Senhor Pinho, o que é que se passou?
- A culpa foi minha querida. Foi mesmo minha, desta vez. Sabe, eu estava fazendo contas e ela me interrompeu por duas vezes. Eu levantei a minha voz e ela ficou muito alterada. Com o problema dela eu já deveria saber que tenho que me controlar. Eu depois falei com ela e prometi, olhos nos olhos, que não voltaria a falar com ela naquele tom. Sabe querida, ela me interrompeu por duas vezes e por isso é que eu lhe gritei mas não volta a acontecer, não me volto a esquecer de que a minha adorada Conceição tem Alzheimer e está muito mais sensível, muito mais frágil. Este problema não é só dela, é meu também e, exactamente por isso, tenho que ter muito mais cuidado. Não a quero ver novamente assim.
Eu não fui incapaz de proferir qualquer tipo de frase cliché, tal era a emoção que me habitava o coração. O Senhor Pinho e a Dona Conceição estão casados há mais de 50 anos. Ele tem que lidar com o estado avançado de uma doença degenerativa, como é o caso da Alzheimer. Ele percebe que é homem e que erra mas, mais importante que isso, ele preocupa-se com o máximo bem estar da Dona Conceição. E provocar-lhe um ataque de ansiedade foi uma situação que o cortou por dentro, que o entristeceu, que o magoou, mesmo que ela não o critique, mesmo que ela não se lembre no dia seguinte. O Senhor Pinho deu cabo de mim com este acto grandioso de humanidade e de amor. E isto aconteceu no mundo actual. A minha fé foi engrandecida*
2 comentários:
O senhor Pinho é um ser humano de facto especial. ;)
bjs
Estou a adorar o facto de cruzar os meus dias com os dele! :) Obrigado pela partilha Maria*
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