Por vezes tenho saudade de toda a minha genica de há uns anos atrás. Aquela sede desenfreada de fazer tudo, de mudar o mundo, de idealizar situações utópicas, de dormir pouco e de criar muito. Foram anos de uma realização tremenda, de um desflorar de criatividade diário, de uma originalidade que me deixava cheia de orgulho. Não acreditava em impossíveis e lutava muito, contra tudo e contra todos. Seguiu-se o cair da ficha, o abalo sentimental, a perda da inocência, o desencanto e a apatia. Tem dias em que preferia ser movida a café e estar envolvida com todas as minhas células em projectos. Tem dias em que me faz falta ter o tempo mais folgado para não me esquecer das minhas pessoas. Tem dias em que faz sentido estar a crescer profissionalmente onde estou e tem dias em que acho que novas paragens seriam o abanão que preciso para acordar. Reconforta-me a certeza de que esse ser, do qual tenho saudades, foi real, existe. Está cansado, está revoltado e quer mais é que lhe permitam a fragilidade. Mas ainda não sucumbiu. E, quiçá, um dia destes, esquece todos os atropelos que lhe causaram, a esperança que lhe roubaram e reergue-se perante a descrença dele próprio no retrocesso. Quiçá!
Decência rarefeita
Há 20 horas
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