Já tinha saudades de ter tempo para escrever. Para escrever com calma. Para pensar em cada palavra. Para canalizar os nós presos na garganta. Para reflectir no meu silêncio. Foi assim que aprendi a sobreviver aos pequenos obstáculos diários que a vida me proporciona. É nesse tempo de paragem que penso e repenso atitudes, traço necessidades de melhoramento e tento entender o inexplicável. Este é o mundo de fugas que necessito, ao qual me fui habituando e que, hoje em dia, me custa tanto a gerir.
Mas hoje é diferente. Hoje estou de folga. Hoje começa Março, o mês do optimismo, dizem. Eu quero acreditar que sim. Que é o mês de mais umas quantas realizações. Que é o mês de 31 novas oportunidades de fazer diferente, de fazer melhor.
Tenho rejeitado pressas que me tentam incutir. Agora sou eu, ao meu ritmo, com a consciência de todas as consequências que essa decisão pode comportar. Decidi pôr um fim a toda e qualquer cura por conveniência. Ando devagar, vou saboreando, vou valorizando o que me tem passado ao lado. (Sei que estou a conseguir quando me chamam a atenção para a minha súbita calmaria.) Começa a reinar a ponderação sem deixar de lado o espírito sonhador. Continua-se com o sem número de afazeres para um número limitado de horas diárias, é um facto, mas questiona-se a melhor forma de redução. Aposta-se no poder organizativo. Cresce-se. A paciência de outrora tende a ignorar, cada vez mais, a mesquinhez. Quer dizer, tem dias! O foco de acção torna-se um pouco mais egoísta. Pela primeira vez não há assuntos mal resolvidos, daqueles que criam ansiedade e mal-estar. Mudei-os de categoria. Há assuntos pendentes, que o continuarão a ser até novas ordens. Assuntos que tinham tudo para serem passíveis de uma resolução sôfrega mas que, por força de acções que me ultrapassam, deixaram de o ser. Perderam beleza, magia e a fé que neles depositava.
E assim vamos andando por cá, qual Primavera que anseia o despontar. Já não falta tudo.
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