domingo, 11 de março de 2012

Hoje....


...o meu coração inunda-se de alegria extrema e tristeza plena. E, por mais estranho que pareça, são sentimentos contraditórios que me habitam pacificamente. 

Sinto-me contente pelo R. que me veio entregar o convite para o seu casamento. O amigo de infância, o colega de turma, o vizinho cuja casa via da janela do meu antigo quarto, o pseudo-irritante-amor infantil que se traduzia por toques de mãos que faziam vibrar o coração, o melhor amigo. Apesar dos nossos pais quase terem feito um pacto de casamento, quais famílias ciganas, fomos feitos para sermos somente isso: amigos! E eu estou feliz demais por ele. Acompánhamo-nos mutuamente ao longo de uma vida, ultrapassámos algumas perdas juntos, brincámos, colámos cromos do Dartacão em 2 cadernetas laranja, fazíamos companhia um ao outro no regresso da escola, lanchávamos, fazíamos parte do mesmo grupo de Carnaval, cantámos as Janeiras juntos. É bom relembrar estes tempos e saber que tudo isto será partilhado com a C. que é uma querida. O pedido de casamento foi feito no alto da Torre Eiffel e foi-nos comunicado num dia de Setembro, entre queijo Camembert e vinho do Porto. O meu coração nessa altura era bom não morrer de dor mas sem dúvida que ouvir e presenciar uma entrega destas lhe deu algum consolo. E hoje, 6 meses depois, só quero que chegue Junho. Tenho a certeza que vai ser belíssimo. 

No entanto, também me sinto triste. O J., outro colega de infância, e a A., colega dos Censos, perderam o pai. O pai deles tinha a idade do meu. E isso mexe comigo. O pai do J. e da A. era um senhor de sete ofícios. Presidente da Fraternidade, pai dedicado, orgulhoso e persistente, um amigo que ajudou a criar a despedida de solteiro que organizei no verão passado. Uma pessoa de farto bigode, baixo e anafado, transpirava boa disposição e tinha sempre uma piada para contar. Uma pessoa de grandes causas, portanto. Só soube na semana passada do seu estado fulminante e terminal. Doeu e não houve o mínimo tempo para digerir esta ideia. Hoje soube do desfecho que já se aguardava. Custou-me encarar o sofrimento daquela família. Mas fui lá por eles. Citaram as últimas palavras dele no velório e é de louvar a sua extrema preocupação em não deixar morrer a Fraternidade, algo pelo qual tanto lutou. Mesmo na negatividade da situação, brotam lições de humildade e de humanismo que nos faz questionar, e muito, a mesquinhez dos nossos actos diários. E acabamos todos a bater palmas, num acto de louvor a uma grande alma que se perde deste mundo.

Hoje vivo numa dualidade de sentimentos. Debato-me com o que acontece diariamente, sem que nos apercebamos: uns vivem alegrias extremas, outros tristezas plenas, no exacto instante em que escrevo. E o mundo vai dando voltas. E a ordem inverte-se. 
E isto é, ao mesmo tempo, estranho e perturbador.

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