As críticas negativas, aquelas que são dedos apontados aos defeitos que sabemos que temos, doem. Tentamos mostrar que não, que somos fortes e que nos passam de raspão mas o que é certo é que magoam. Da primeira vez que dizem friamente que tens "problemas emocionais", sem um pingo de compreensão no olhar, dilaceras-te por dentro. Entras num choque de realidade, mesmo que saibas que de alguma verdade se trata, uma vez que o som de tal dureza faz mossa no coração e na alma já desgastados. Questionas-te durante meses que fizeste tu de tão louco, de tão absurdo, de tão surreal para que, à face do que conhecem de ti e do teu passado, te acusem tão injustamente. Questionas os teus, um por um, como se de uma obsessão se tratasse. A resposta, surpreendentemente, é diferente daquela que te querem fazer crer. Mesmo assim não acreditas e precisas de uma amostra considerável, não vá a tua baixa auto-estima e a tua insegurança fazer-te pensar que é tudo amabilidade de quem tem medo que te desfaças em cacos. Mas não é. Por estranho que pareça, os mesmos inquiridos que respondem positivamente são aqueles que fazem críticas a detalhes que querem ver mudados, sim, mas com a particularidade de oferecerem soluções e transbordarem amor, paciência e disponibilidade. Refazes-te, dia após dia, entre obrigatoriedade de registares ganhos e perdas que visam melhoras. Lês e aprendes, conheces e dás a conhecer. Investes em ti e sabes que estás longe, muito longe da perfeição. És mais amarga e desconfiada, mais solitária mas mais feliz, com mais paz e tranquilidade. Mais dependente da família da qual eras independente e independente daqueles que só estão presentes às vezes. Reergues-te. Percebes que não te podes deixar afogar num mar de exigências que se dão num só sentido. Libertas-te do peso do que não serve mais. Até que te voltam a acusar do mesmo. Desta vez não são os olhos sem piedade, é mesmo a voz. Entristece-te novamente a falta de alternativas dadas. Entristece-te uma acusação sem apoio para a mudança. Entristece-te que se crie uma verdade em minutos, sem olhar para o todo de que se tem conhecimento. Já dizia o sábio que só devíamos apostar em críticas positivas. Deitar abaixo todos conseguem... agora ajudar a reerguer, amparar na luta, dar o braço e o peito como apoios para o caminho é que é mais difícil. Não te sentes dilacerada com o comentário porque és uma pessoa bem diferente do que eras, que ao longo do caminho foi ganhando maturidade e discernimento e já não se coloca em causa por tão pouco. Não deixando de te sentires um pouco desiludida e triste, claro está. O sentimento pode ser recíproco, não duvidas, mas há acusações que, com um pouco de amor e cuidado ao serem abordadas, têm tudo para correr bem e surtir efeito. Já o contrário não é tão viável. Sentes-lhe a falta, é um facto, mas ainda estás muito magoada, sem perceberes porque é que preferem sistematicamente acusar-te a apoiar-te. Um dia saberás pequena. Um dia!