Ligou-me. O F. ligou-me porque o pai estava internado no Hospital da cidade mais próxima de onde vivo, à espera de ser operado a uma hérnia. Ligou-me com a desculpa de não saber onde almoçar, acabando por depois confessar que sabia mas só queria ter a certeza que eu concordaria com a sua escolha. Imediatamente me prontifiquei a ir ter com ele porque decifrei a pedrada de medo que assolava aquele rapaz. Ele não é muito bom a expressar o que sente, nunca dá parte fraca. Por detrás de toda a calma aparente, aquele coração bombeava preocupação e algum terror pelo extremo atraso que a "simples" intervenção estava a sofrer. Encontramo-nos com um abraço e um beijo na testa. Sempre achei que aquele menino, por mais esguio que fosse, conseguia ter a capacidade de proteger. Éramos muito novos, muito imaturos, muito parvos e só fizemos merda. Já chegamos a essa conclusão há uns anos, no meio de um lanche ajantarado. Foi preciso tempo e afastamento para digerir as angústias e frustrações de uma ligação falhada. Foi isso que fizemos e bem, a meu ver. Nunca houve qualquer tipo de interferência de um na vida do outro. Sempre foram respeitadas escolhas. Já lamentamos a nossa fraca capacidade de luta conjunta e prometemos algo muito mais viável: cuidar, mesmo que longe, do bem estar um do outro. Foi uma pessoa que me fez viver uma fase bonita, que suportou um dos maiores desastres emocionais que tenho memória, que fez Coimbra ter encanto. Foi um choque para os dois e para os que nos rodeavam a quebra da nossa relação mas algo não funcionou devidamente. Hoje podemos dizer que iremos sempre levar o outro no coração, querer o bem, sorrir as vitórias e chorar as mágoas em conjunto. Eu sei bem o peso que tenho na vida dele, assumindo a culpa por muitos cabelos brancos e pelas rugas de expressão. Eu sei bem o peso que ele tem na minha vida e ele assume isso livremente. Iremos ser sempre duas almas amigas que um dia foram amantes. E isto é bonito! Foi bom poder estar sentada, em paz, nas escadas daquele hospital, contornando a ansiedade com conversas de sapatilhas, de recordações estudantis, de perspectivas futuras. Hoje voltamos a falar porque queria um conselho informático, confessando posteriormente que só estava a usar a desculpa para saber do senhor Rocha. E o senhor Rocha está a recuperar bem, devagar e, espantosamente, de uma forma sossegada e serena! Tornei a casa com a alma mais descansada e certa de que tenho histórias bonitas e pessoas boas nestes 25+1. Obrigado pelas boas energias!
O António José Seguro, ó Pedro Nuno?
Há 8 horas
3 comentários:
Deram espaço e souberam separar as águas. Muitas pessoas não são capazes disso.
Que bonito! Todas as ex relações deveriam ser assim, parabéns! ;)
Inês, tens tanta razão que me fazes vir à memória a única pessoa com quem, infelizmente, não consigo chegar a este ponto! Mas pode ser que um dia isso mude... :)
DC se ambos fizerem por isso, tenho para mim que é possível a todos! :) Uma beijoca*
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