A noite já vai longa e, enquanto tomava banho, tentei delinear uma metáfora que explicasse, como de um eufemismo se tratasse, tudo aquilo que queria registar aqui hoje. Não fui, de todo, bem sucedida. Então pensei que, se fosse fiel à minha brutalidade, talvez a coisa se processasse. Não sei se vai ser o melhor, mas o que é certo é que não ando com muita paciência para ser politicamente correcta. E agora, bem agora, enquanto escrevia esta preocupação duvidosa que me assolava, senti que devia conjugar ambas as opções. Não sei. Estou confusa. Mas aqui vai.
Se não podemos forçar sentimentos, também não podemos forçar formas de ver, encarar e viver a vida. Ponto final. A pessoas que se apegam facilmente e que pretendem compromissos não se lhes pode exigir que ajam por prazer, como a pessoas que não se querem comprometer e que conseguem separar bem as águas não se lhes pode exigir que alinhem em compromissos. Pelo menos de uma forma um tanto leviana. A menos que queiram, se mentalizem e entrem de livre vontade nesse caminho. A meu ver, quando alguém percebe e assume o que pretende para a sua vida, até prova em contrário, deve ser prática e objectiva a seguir o trilho que leva a alcançar o caminho que quer percorrer.
Porque carga de água é que irei até ao Porto, gastar tempo e recursos, quando pretendo instalar-me em Lisboa? Posso regressar ao Porto, em modo turista, recordar o quanto me é importante nas lembranças que a ele associo, respirar-lhe o odor da meninice das experiências que lá vivi. Mas o meu destino é Lisboa. Não quero, não posso e não é necessário ir lá dar a volta, instalar-me só porque terceiros gostariam que eu o fizesse, para seu próprio prazer. Por mais que me tentem convencer a alinhar numa aventura fugaz, bem louca e prazerosa, eu irei focar-me exactamente na primeira parte: fugaz! Não, já não tenho vontade de perder tempo em algo que sei que não corresponde ao que procuro. E tomo esta consciência com a maior paz que há memória no meu ser de quase 27 anos.
As pessoas não estão, nem podem estar todas, no mesmo comprimento de onda. E o truque está em não nos revoltarmos, nem com elas nem connosco, e deixarmos que ambas as partes sigam o trilho que mais as deixará felizes. Sem dramas. Porque as escolhas pessoais de cada uma das partes tem o seu porquê, o seu objectivo. Ou, pelo menos, deviam ter. Só não me peçam para tolerar e aceitar que fiquem fulas e ofendidas. Porquê? Não têm que o estar.
Não ambicionarmos o mesmo, neste momento ou para sempre, não comporta nenhuma obrigatoriedade de corte de relacionamento. Lá porque não caminhamos unidos não quer dizer que não possamos caminhar lado a lado. Lá porque não se cede ao fácil, em prol do que se sonha e ambiciona, e se explica isso mesmo, não faz da outra parte um ser desrespeitoso e rude. Tomara que todos soubéssemos um pouco mais o local onde pretendemos chegar, em vez de andarmos constantemente a metermo-nos em atalhos que desconhecemos, somente pelo doce sabor fugaz da aventura. Há o tempo em que isso faz todo o sentido, mesmo com desconhecidos ou com conhecidos a que em breve diremos adeus, e há o tempo em que o que mais pretendemos é nos perder com aqueles que faz todo o sentido "andar em voltas rectas na mesma esfera", como dizia o outro! É tudo uma questão de objectividade, continuo a frisar.
Com a idade tornamo-nos práticos, concisos e claros. Eu, pessoa que tinha e que continua a ter um bocadinho problemas em lidar com perdas e com cortes um tanto definitivos, tive que aprender a, pelo menos, saber lidar com esse medo que me fazia agarrar às coisas de uma forma quase obsessiva. Há peso que só faz sentido carregar durante certas etapas da vida. Ele terá que ser libertado na altura certa. Para o bem de todos. E lá porque um dia nos libertei e nos forcei a trilhar caminhos diferentes, não implica que tenha esquecido a história que nos uniu. Hoje não faz mais sentido mas o carinho e cuidado construído permanecerão como fonte eterna de ligação. Porquê então toda a dor, frustração e irritação se concordas que queremos coisas diferentes? A noite ajudar-te-á a reflectir. Eu já encontrei a minha resposta. Um beijinho no coração.