A ideia era sair do trabalho às 15h30 para conseguir chegar ao Porto a horas decentes para estacionar e lanchar com a devida calma. Pois bem. A saída acabou por acontecer 1h depois, já comigo a bufar por todos os lados. A viagem foi feita ao som de David Fonseca, perdida em responsabilidades típicas de mais uma semana de serviço. Ao chegar, e depois de uma voltinha para conhecer o Cerco do Porto (por engano!) lá encontrei, como por magia, um lugar mesmo perto do Estádio. Não questionei a sorte e lá fui de encontro à agradável companhia que, há mais de 6 meses, padece do mesmo desespero que eu pelo 10 de Junho de 2013! Abastecida a mala de mantimentos de Burger King e da dose necessária de cafeína, o relvado do estádio do inimigo aguardava a nossa presença. Fomos andando até à presença de outros amigos e eu, por momentos, achei que não seria nada boa ideia ficar mesmo no centro do estádio, perto do segundo palco, onde seríamos rodeados apenas por pessoas em delírio por todos os lados. Como além de pessoas havia também grades e seguranças bastante perto, deixei de lado a agonia e concentrei-me no que estava ali a fazer. As horas foram passando, a conversa foi-se intensificando, a decoração de todo o estádio fazia antever algo de surreal. Uma espécie de tumores ou neurónios ou metástases nas bancadas, um robô que veio dizer olá, uns balões de S. João bem no topo. A nossa imaginação ia criando um mundo de fantasia ao ambiente envolvente que se fazia sentir. Os We are the Ocean, que eu não conhecia de parte alguma, fizeram uma primeira parte gira, deixando em mim uma curiosidade sobre os mesmos. No entanto, como antecedentes dos Muse, podiam ter dado um pouco mais de si, apostando numa maior interacção e num visual menos descuidado. Seguiu-se uma longa espera até que as luzes se acenderam e, sem que nada o fizesse prever, rebentou uma bola de fogo a 1 metro da minha cara. Fui projectada, com outros tantos seres, para trás num acto de defesa e dei por mim a colocar as mãos às pestanas e às sobrancelhas para ver se as tinha todas.
(atentem ao minuto 0:16)
Estava inteira. Tinha escapado a esta e a adrenalina no meu corpo era incalculável. Ficámos todos de sobreaviso sempre que víamos o buraco daquele palco a mexer, não fosse acontecer novamente a bomba e dar-se algum ataque cardíaco em alguém. Aquilo com que não estávamos, de todo, a contar quando ali nos posicionámos, foi o facto de, minutos mais tarde, ter de joelhos, à nossa frente, o vocalista em completo êxtase. Sim, o Bellamy esteve a um metro da minha cara. Demorei um certo tempo a processar, é verdade, tal era a estupefacção. Mas para continuar o delírio do momento, seguiram-se uma série de músicas que tanto me dizem, interligadas num protesto ruidoso contra a ganância mundial, contra os poderosos, contra os humanos que destroem a humanidade. Senti que os meus saltos e os meus berros faziam jus à revolta que sinto pela vitória dos que ganham à conta dos seus semelhantes. Faziam jus ao nojo que sinto da podridão de certas almas, do egoísmo e da parte calculista que decidiram cultivar. Foi libertador. E como se não bastasse, momentos tão próprios como um estoirar de notas pelo céu do Dragão, um suicídio com gasolina, uma balada tocada ao piano, um solo de harmónica e a deslocação do baterista aconteceram no nosso palco! Muitas foram as críticas que li ao concerto. Questiono-me seriamente se quem criticou, pela negativa, esteve lá mesmo. Não sei que concertos tiveram a oportunidade de ver mas uma banda que conjuga devidamente clássicos com músicas recentes, numa espécie de documentário contra a corrupção, usando um cenário futurista que nos faz sentir parte de um videojogo, envolto em efeitos que nos testam todos os sentidos, tem que ser louvada. O concerto foi único, de tal forma inesquecível que me dei ao trabalho de aqui registar esse momento. Quero para sempre lembrar-me dos pormenores que a memória teimará em fazer esquecer. E sim, nem nos meus sonhos mais audazes eu imaginava o que aconteceu.
E agora uma nota para ti, meu eterno problema cardíaco: sabia perfeitamente que também tu fazias parte dos 45 mil e que não estarias muito longe de mim. Sabia que estavas a ver o mesmo que eu, a sentir tanto ou mais que eu. O meu medo e a minha estupidez fizeram com que os nossos olhares não se cruzassem mas aquele Electrify my life! traduzia o que o meu corpo era impedido de fazer, pela minha desgraçada mente. Resta-me a certeza que, também tu, te lembraste de mim quando surgiu AQUELA música. Não duvido!
Valeu a pena a espera, valeram a pena os planos, valeu entrar naquele estádio sem expectativas. Foi isso que tornou tudo tão especial. Tomara que agora eu entenda que assim, desta forma, é mais saudável viver, é mais gratificante, é mais pleno e surpreendente. Sim, foi um mero concerto de música mas eu sou um ser de emoções e ponho tudo o que sou naquilo que vivo. Obrigado Muse!
2 comentários:
Se eu já estava com pena de não ter podido ir....então agora nem te conto! ES-PE-TA-CU-LAR! A última foto está fantástica :) Este vai mesmo ser um concerto que te fica na memória para sempre, hein?
Foi um concerto grande e um grande concerto!!!
A última foto está fantástica!!!
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