terça-feira, 23 de outubro de 2012


E, depois do dia de trabalho, acabar a noite a dinamizar projectos no café a que vinha na minha infância com o meu avô é, deveras, sentir-me em casa. É uma tasca rústica, com bancos de madeira e mesas criadas a partir de pipas de vinho. Tem recordações de tempos idos e um LCD gigante. O dono tanto coloca a VH1 a altos berros como nos congratula com concertos de Leonard Cohen. No caminho da tasca para o carro tenho sempre o privilégio de ver o cais e fitar a bateira que era do meu avô e sempre me levou em passeios pela ria. Há dias em que o que mais quero é sair desta terra. Há outros em que me deparo com o privilégio que tenho em poder contactar, diariamente, com as minhas memórias mais felizes. Eu sou aquilo que outros viveram a meu lado, sou a história que fui criando. Eu sou lugares, recordações, objectos e sentimentos. Eu sou um ser estranho e eternamente deslumbrado pelo que me rodeia. Que nunca me tirem os meus sítios, as minhas pessoas. Se quiserem fazer parte de mim venham... mas venham sem segundas intenções, sem jogos, sem tempo contado. Venham para ficar, para me ouvir, para me criar. Ou não venham de todo. Preciso de quem cria memórias boas, de quem me faça recordar lugares e querer voltar lá vezes sem conta. Preciso de quem honra o compromisso de, simplesmente, se instalar. Assim, sem prazo de validade, com todo o mistério honesto que comporta dentro de si.

1 comentário:

Inês disse...

Nós somos os nossos lugares.É deles que vêm as nossas memórias.
E a terra é lindissima.