Comemoro a 301ª publicação com uma homenagem a um dos homens da minha vida: o meu avô!
Fez ontem 5 anos que partiste mas prefiro imaginar o alvoroço que se iria viver hoje cá em casa! Do alto da tua sapiência, apresentavas-te com um penteado característico que eu teimava em desajeitar, olhavas-me com aqueles olhos grandes, de um verde forte, que trazia associado as rugas características da idade e a pele queimada pelo sol.
Foste o homem que aturou birras quando eu "estava com a mosca", foste o homem que me fez montes de curativos nos joelhos e nos braços, quando eu teimava em andar por cima de muros e subia às àrvores, foste o homem que leu a mesma história em BD para cima de 50 vezes e que não tinha ordem de saltar quadradinhos nem de os alterar.
Ficavas vezes sem conta perdido nos teus pensamentos, sentado ao pé da lareira, deixando o cigarro consumir-se por ele, enquanto fazias rede. Ensinaste-me a encher as agulhas com que a tricotavas mas eu achava mais interessante e desafiador fazer o contrário.
Sempre fui uma miúda rebelde, com direito a um cantinho com areia para eu fazer as minhas civilizações, que tinha uma hora certa para o lanche, que adorava passear de bicicleta com o avô e que, adorava muito mais, meter os pés no raios da bicicleta... com e sem protecção!
Ele fez-me crescer num cais de uma ribeira, onde tinha uma bateira com o nome Vadia e outra com o nome Pérola da Ria. Um dia disse que tinha a ver com os meus estados de alma! Tinha humor o sacana!
Aprendi a jogar cartas sentado numa mesa de uma tasca onde me levava. A minha altura não me permitia outra coisa. Lá pagava-me sumos e copos de leite frios e quando eu tentava fugir para ir apanhar borboletas ou caracóis, puxava-me pelo colarinho da camisola.
Pois bem... Foi nessa mesma tasca que tive o último contacto com ele. Uma nota passada por debaixo da mesa e a promessa, cheia de orgulho, de me ver trajar. Tal não aconteceu.
Acabei o curso, iniciei o mestrado, perdi-me, encontrei-me, desiludi-me, iludi-me, sorri e chorei. Realizei muitos sonhos, criei outros tantos. Conheci pessoas, ganhei umas, perdi outras, afastei mais algumas. Conheci Portugal, parti e escondi-me do mundo, voltei para ele.
Não reconheci o meu lugar na família, vagueei por outros lares e tectos, descobri que o meu lugar era precioso. Deixaste-o como herança, confiando no poder que me deste para fazer sempre mais e melhor por esta família que foi tua e que agora é minha!
Deixaste ainda gravado: "Que sejas fiel a ti mesma na família e no mundo... na família e no mundo, minha querida!"
Vou tentar, meu velho... nunca desapontar!