Há alturas em que duvidamos do nosso valor e da importância que temos na vida daqueles que nos são mais queridos. Sentimos que não nos ouvem, que nos ignoram, que não aceitam nem entendem a ajuda que lhes damos. Sentimos que a distância aniquilou tudo, que os gestos rotineiros e tão dotados de amor caíram em "saco-roto", que o tempo, o afastamento e algumas más recordações superaram tudo o que de bom foi vivido.
E isso magoa o coração. Isso dilacera os sentimentos, dilacera uma alma que é capaz de morrer para que a outra atinja as suas realizações e os seus sonhos. Isso dilacera a vontade que se tem de dar o mundo a alguém. Isso dilacera a fé!
Mas depois a vida encarrega-se de ir juntando os pequenos pedaços perdidos, fecha as cicatrizes, oferece o perdão e apela-nos, docemente, a que abramos os olhos. Encaminha-nos para junto daqueles que nos continuam a recordar, com carinho e admiração, mesmo já volvidos mais de 6 anos. E 6 anos é quase uma vida...
Festa de fim de curso. A família dela e os amigos estavam reunidos. 3 discursos. 3 momentos de choro. 2 referências, em lágrimas de alegria, à nossa amizade de mais de 15 anos, por ela e pela mãe. 2 referências à dedicação e empenho com que fazia de "secretária" de uma menina distraída. 2 referências à entrega desmedida para com as situações de doença e de divórcio. 2 referências à grandeza de uma amizade que permanece inabalável e que só peca pela escassez de momentos para a enaltecer ainda mais. 2 chamadas de atenção para que me continue a manter fiel aos princípios que sempre me caracterizaram e me fazem ser diferente e especial no meio dos mais de 30 que lá estavam.
Foi forte, foi emocionante mas, acima de tudo, foi recompensador. É claro que toda as pessoas vão mudando, umas vezes para melhor, outras vezes para pior. As circunstâncias vão determinando o tal eu que todos esperam que seja sempre perfeito... mas se formos genuinamente sinceros, puros de coração, fiéis aos princípios que nos caracterizam como seres humanos únicos e irrepetíveis não há mal, tempo ou distância que nos afastem do que é nosso.
E aquela família é minha. Aquelas pessoas foram fulcrais para determinar aquilo que sou hoje. E quando digo hoje, digo mesmo hoje, dia 2 de Outubro de 2011. Podemos perder-nos vezes sem conta, asneirar muito, perder a fé e a determinação, perder a alegria e a motivação e andar à deriva dentro do nosso ser... mas se tudo isso for necessário para que consigamos, em paz, voltar a olhar para dentro de nós e percebermos que somos especiais, importantes e capazes de mudar o mundo de alguém, assim seja!
Já não me lembrava de dormir com a sensação de dever cumprido há muito tempo. Não necessito de reconhecimento constante nem de grandes louvores. Necessito que percebam que quando amo tento pôr, o mais que sei, os interesses do outro acima dos meus... e sou capaz de lhe dar o mundo se ele assim o aceitar! Não necessito de autorização para cometer os meus impulsos de amor. Faço e pronto, sem esperar que com isso consiga mais amor.
Agora o que me é mais difícil de digerir é a indiferença, mesmo que inconsciente, para com o meu esforço humilde e constante de melhoramento. Dói, magoa e vai-se superando como se pode... uns dias melhor, outros dias pior!
Porque tudo isto que agora aqui descrevo, para um dia mais tarde voltar a recordar com carinho, só pecou pela tua ausência. Todo o sorriso posterior, o orgulho e a emoção não foram partilhadas contigo. Não fazes parte dos 15 anos volvidos mas fazes parte do presente que quero para mim, hoje! E gostava imenso que tivesses partilhado, a meu lado, este momento com eles. Eles iriam gostar de ti como eu gosto. Eles iriam perceber logo o porquê de seres tu o escolhido.
Mas mesmo na ausência, eu retirei um ensinamento deveras interessante para uma pergunta que me foi feita recentemente: Quem é a pessoa que queres a teu lado quando os teus sonhos se tornarem realidade? Ao que eu ontem percebi, mais do que nunca, a resposta: és tu!
Para mim faz toda a diferença... descobrir e afirmar aquilo que sempre fui, aquilo que sempre quis!