O porquê de eu gostar dos inícios das relações debate-se, única e exclusivamente, com todo o esforço e dedicação sobrenaturais que move o nosso comportamento. Tudo é possível, quer-se "este mundo e o outro", planeia-se um sem número de momentos que queremos viver com o outro, planeiam-se surpresas e, muitas vezes, não temos meios físicos. psicológicos e financeiros para os concretizar mas, mesmo assim damos a volta e eles surgem, mesmo que adaptados. E estas atitudes engrandecem a relação. Vão acalmando os corações atribulados, vão dando segurança e solidez à escolha feita, vão criando laços. Depois vêm os primeiros arrufos que mostram que somos humanos, que somos diferentes e com personalidades que não se encaixam em todos os pontos... e, mesmo assim, no início de que tenho vindo a falar, não se vai para a cama magoado, há sempre uma mensagem longa ou um telefonema interminável. E mesmo que se debata tudo, mesmo que fique tudo bem, há que reforçar a ideia com outra mensagem... aquela que sublinha o sentimento que se tem, que aconchega o adormecer, porque o que sentimos é tão grande. tão forte e tão inquietante e não pode ficar só para nós! E lá estamos, novamente, perante o esforço, a criatividade e a dedicação.
Dizem-me vocês, e bem, que este nível exacerbado não é compatível com o dia a dia. E eu concordo em parte. Pode não ser totalmente compatível mas é possível de fazer parte do mesmo. Se temos uma agenda cheia de afazeres, divididos por horas, e tantas vezes conseguimos fazer em 24h o que devia ser feito em 48h, também há tempo para marcar na mesma o que se pretende fazer ao outro, àquele especial, nesse dia. Não interessa se é um bocado de papel rabiscado, a chiclete favorita, o doce que traz imensas calorias, as pipocas para o filme caseiro, uma flor do campo, um pacote de açúcar vazio, uma MMS, uma visita de surpresa, um convite inesperado, umas férias a dois ou uma noite caliente de amor. Não interessa o valor monetário que lhe está associado, ou o prazer que proporciona. Interessa sim toda a preparação, empenho e amor colocados naquele simples acto diário de se reconquistar o outro. Porque se dizemos, à boca cheia, que amamos a pessoa e que ela nos está sempre no coração e no pensamento, isto tudo que falei é passível de ser realizado sempre, dia após dia. Se a vida nos traz, todos os dias, algo novo podemos ser egoístas e vivê-lo sozinhos ou podemos partilhar e aí temos o supra-sumo das relações: The happiness is only real when shared.
Podem assolar-me com mil e um argumentos que inviabilizem toda esta minha teoria e análise simples e utópica de vida, que vos garanto que todos juntos não serão suficientemente fortes para a deitar abaixo. Se reclamamos a simplicidade da vida, se ansiamos pela felicidade, se queremos algo bom e que nos complete ao nosso lado não compliquemos: é preciso dar para receber. É preciso dar esforço, dar tempo, dar carinho, dar amor, dar exigência, dar atenção, dar-nos em toda e qualquer atitude que tenhamos para fazer o outro feliz. Amar e ser feliz já deixou de ser, há muito tempo, uma questão apenas de sentimentos. É, cada vez mais, uma questão de actos recheados desses sentimentos, porque eles podem ser falados mas permanecerão muito mais tempo se forem demonstrados.
E quem me tira a intensidade da fase inicial, tira-me tudo!