domingo, 21 de outubro de 2018

Pára. Respira. Uma... Duas... Três vezes. Mentaliza-te da realidade. Esquece o que idealizaste. Vê o que verdadeiramente é. A mesma situação acontecerá as vezes necessárias até aprenderes "quem nunca". Não chega quase sentimentos. Não chega quase vontades. Não chega o que podia ter sido. Não chega. No meio de discursos movidos a medo, no meio de dúvidas tontas, no meio do conformismo da zona de conforto, no meio da necessidade gritante de se acertar, não há espaço para o que é de verdade. Infelizmente. E quando não priorizamos a verdade, quando não damos permissão aos sentimentos que julgamos ilógicos, quando calamos o que queremos falar, a tendência é definhar. Um dia mais tarde, se porventura não nos conhecermos mais, iremos tentar perceber onde nos perdemos. Beberemos da nostalgia da mágoa e da saudade e pouco restará do que poderia ter sido. Porque cansa, porque deixa de fazer sentido, porque deixa de fazer o coração vibrar. E desaparece aos poucos. E esfuma-se aos poucos. E já não se recorda com olhos a brilhar de magia. Antes com lágrimas que turvam o olhar. E esquecem-se os detalhes e os pormenores. A vida muda. É certo. As pessoas vão e vêm. Os momentos também. Poderia ser tudo diferente. Poderia ser exactamente o que é. Não sei. Viver é fazer diferente, digo e creio. E é essa diferença que nunca poderemos querer almejar se nunca tivermos a ousadia de tentar. De forma incondicional, por nós, sem estratégias, sem ego. Talvez fiquem os dias em que sonhámos acompanhados. Talvez fiquem os dias em que fizemos partilhas com a alma nua. Talvez. Ou simplesmente desaparecerá em esquecimento, como já aconteceu com a maior parte das recordações que os cinco sentidos proporcionaram. Isto de morrerem em nós e nós morrermos nos outros é triste. Castrador. Chega a saber a amputação. Ou então será para renascermos mais bonitos, mais genuínos, mais puros, mais humildes e mais sonhadores. Mas nunca nas mesmas pessoas. Porque posso querer viver diferente mas não tenho a fé suficiente para continuar a crer, de forma cega, que quem nos destrói pode um dia, por intervenção divina, mágica ou kármica, nos reconstruir.

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